
É um homem simples, meio adoentado, taciturno; enrijecido pelas agruras da vida, porém, boa gente. Se não fossem os maus-tratos que lhe fazem, certamente, seria uma pessoa mais amável, extrovertida e, possivelmente, conseguiria unir forças à sua causa política. Embora seja importante, timidamente, ele luta para que os governantes vejam também a situação onde mora, porque clama por condições de calçamento para a rua, que irá beneficiar todos os moradores - caso saia.
O desgosto maior de Poeirão, que impulsiona a sua árdua peleja, é que o único pedaço do logradouro sem ser calçado é a frente das casas que seguem à dele, numa distância de uns 300 metros. Haja vista que o pavimento começa no início da Rua Teixeira de Freitas, perto do rio, e vai aproximadamente 1 km de extensão, mas “morre” antes do término.
Além disso, a insatisfação dele, igualmente, existe porque a comunidade da qual está inserido, a toda eleição municipal, serve de trampolim para políticos, pois o “pedaço da rua” já faz parte de promessa eleitoreira para um número de candidatos demagogos. Pois, uma quantidade expressiva promete que irá concluir o calçamento, de maneira que a avenida seja trafegável com mais facilidade, e que os moradores de lá não mais irão recorrer ao hospital para curar das doenças: alergias respiratórias, rinite, asma, bronquite asmática, etc., ocasionadas pela excessiva poeira.
Numa situação de indagação, ele lembra que, próximo da sua casa, existem duas instituições governamentais, CERB e o CRAS, que poderiam facilitar a construção e a continuidade da pavimentação, já que acredita que “uma coisa puxa a outra”... Mas, pelo que tenho visto, João, parece que “duas coisas afastam uma outra”.
Quem conseguiu avistar João Poeirão na esquina, percebe que a insistência dele não é de agora, pois “se perdeu na poeira da vida”, como diz Chico Buarque. E, devido à degradante situação da saúde, infelizmente Poeirão se contorce sozinho em meio à solidão “das vizinhanças”, uma vez que todo município, desde muito tempo, necessita também de pavimentação em diversas vias públicas e, mais ainda, nas estradas vicinais. Contudo, o povo anda parcialmente cego (possivelmente, devido a poeira) e encontra-se incrustado diante do grave problema.
Justino Cosme, estudante,