terça-feira, 6 de julho de 2010

A construção da verdade


Ultimamente tenho pensado um pouco. Esses dias eu estava pensando sobre o que é verdade e o que não é. O que é verdade e o que querem nos fazer acreditar que seja verdade. Eu estava pensando por exemplo, no jogador de futebol. É um profissional que ganha muito dinheiro para jogar futebol, uma coisa que muita gente acha bom de fazer. Aí eu estava pensando se o futebol profissional for, na verdade, uma grande armação. Algumas pessoas contratam os jogadores para jogar, pagam muito bem, ganham muito dinheiro. Neste caso os campeonatos são inventados, os resultados, quem vai ser campeão, tudo é combinado de acordo com a garantia de faturamento alto e a manutenção do negócio a longo prazo. Os jogadores nem sabem disso mas o mundo do futebol é um faz de conta e os torcedores... coitados são quem paga as contas.

Depois eu pensei nos políticos. Eu pensei que eles podem ser também contratados, ganham salários razoáveis e podem aumentar seu rendimento tirando alguns por fora, manipulando algum poder. Mas na verdade eles só servem mesmo de bode expiatório para receber alguma bronca que sobrar. Eles existem para assinar os papéis, para as decisões serem tomadas dentro da lei. Servem também para representar, mas não como manda a democracia representativa, sua representação é mais parecida com a representação que se faz em Hollywood, representação de atores, que disfarçam e fingem viver uma situação que não existe.

Pensei ainda nos grandes bandidos, os que estão na moda são os grandes traficantes. Esses também podem ser contratados. Pra que alguém iria contratar um bandido? Para uma função parecida com a do político: a de bode expiatório. Se todo dia prende-se grandes traficantes e o tráfico continua a cada dia com mais fôlego certamente não estão prendendo as pessoas certas. Esses grandes traficantes são contratados para isso mesmo, serem presos, mostrar a cara na televisão e o político (que também é contratado, lembra?) dar entrevista mostrando que o governo está trabalhando.

Se tudo isso é verdade, então eu pensei, qual a diferença entre o Jornal Nacional e as novelas que vêm antes e depois dele? É que no Jornal eles querem nos fazer crer que aquilo é a mais pura verdade enquanto que a novela diz que é ficção. Aí eu pensei o quanto as fronteiras da realidade são flexíveis e pensando nisso fui viajando pelo território da realidade e descobri como às vezes a realidade é sem graça e pensei como o pensamento é bom porque nele você constrói a fronteira da realidade onde você quiser e descobri que o pior é que tem gente que constrói as fronteiras da sua realidade e quer fazer as outras pessoas acreditarem mesmo que seja à força naquela realidade que construiu arbitrariamente e descobri que o pior ainda é que tem muita gente que acaba acreditando nessa realidade mesmo sem se preocupar em construir a sua própria realidade até que aquela realidade arbitrária se torna a mais pura verdade... E parei de repente com meus pensamentos quando cheguei nessa pura verdade, coisa mais sem graça, que não permite alternativa, é uma prisão de onde não se pode sair, pronta, acabada, (cheia de vírgula) jogada em cima da gente. Eu prefiro o pensamento, nele posso viajar e descobri outras verdades.

Mas tem gente que não gosta do pensamento. Como o general de Brecht que controla tudo, mas não o defeito de pensar que o homem tem. Ou os canibais de cabeça do metrô 743 de Raul, que vivem à caça dos homens que vivem parados “porque quem pensa, pensa melhor parado”; e avaliam o preço das cabeças pelo nível mental que as pessoas andam usando. Aí eu parei de novo, agora com um novo pensamento: será quem contrata os jogadores de futebol, os políticos e os bandidos? Será que não é o general ou os canibais de cabeça ou algum amigo deles ou mesmo o patrão deles? E talvez, general e canibal de cabeça seja uma mesma pessoa?! Bem, seja como for continuei pensando para fugir dessa realidade em que me jogaram, continuo pensando para construir as fronteiras da minha própria realidade porque parece que seria melhor se cada um construísse sua própria realidade e respeitasse a realidade dos outros.

Anísio Filho, historiador – Agrovila 08, Serra do Ramalho-BA

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