segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mulher sem coração!


É redundante dizer, mas uma mulher bonita muda a rotina (diria) de qualquer homem, sobretudo, da terceira idade. O que aconteceu numa agência dos Correios, duma cidadezinha aqui do interior, comprova o que estou dizendo.

Um senhor nos seus noventa e tantos anos de idade, viúvo, solitário, um pouco cansado da vida, morando sozinho numa grande casa, encantou com a beleza da linda moça – a atendente dos Correios. Não muito levado ir à agência devido sua debilidade física e, mormente, sem ter o que fazer lá, exceto tirar seu “aposento da aposentadoria” cada inicio do mês.

Contudo, após perceber a nova funcionária da empresa, ele passou a ir nos Correios com mais freqüência, dado que a ela era solteira, muito bonita, jovial, educada, e espontaneamente estendia um sorriso bonito e branco nos dentes. Mesmo não sendo de costume, quase todos os dias lá estava o Sr. Alberto: com os cabelos à “brilhantina”, bengala na mão direita, perfumado e a roupa do corpo mais alinhada que meio-fio de calçada.

Para não levantar suspeitas do interesse pela moça, sempre usava a desculpa de que estava esperando uma carta vinda de São Paulo. Mesmo que o carteiro estivesse presente, aproveitava que era isento da fila, para dirigir a pergunta diretamente à Marinez. - Minha senhorita, você sabe me dizer se a minha carta chegou? Sem saber do que se tratava, ela dizia: - Ainda não. Aliás, pergunte aí para o carteiro. Ele saberá melhor que eu, pois ele é o responsável por essa repartição, senhor!

As palavras proferidas pela linda moça soavam aos ouvidos dele como uma canção de ninar. Desse modo, seu Alberto estava sempre na agência dos Correios à procura duma carta que, certamente, não existia. Em algumas oportunidades indo duas vezes no mesmo dia.

Desconfiado da sua insistente presença, e do interesse dele pela atendente, o gerente começou a fazer brincadeiras, de modo que não corresse com o cliente, mas que o mesmo desconfiasse que estava incomodando a moça. Assim, Augusto falou com ele: - Alberto, o senhor precisa usar óculos de graus, de repente você está vendo uma mulher mais bonita do que realmente é. Nisto, com as palavras trêmulas, ele retrucou: - Que nada 'Gusto', essa mulher é mesmo bonita. Se eu usar óculos, ela vai ficar ainda mais bonita. Infelizmente, meu filho, ela não dá muito assunto pra'eu... e pena que a carta nunca chega!

Passando alguns dias depois, lá estava o seu Alberto de óculos. De longe procurou flertar a moça, no entanto, acabou chamando atenção do gerente, que gritou: - Seu Alberto, você ficou muito bacana com esses óculos, espero que não “estranhe” a beleza da moça. Ele, como um bom galanteador, não dispensava às oportunidades - mesmo sem a moça ter dito nada, a não ser olhá-lo de soslaio - foi logo dizendo: - Que nada Gusto, como eu te disse, ela ficou foi mais bonita, muito mais formosa. Se ela topar casar comigo, prometo que farei ela feliz, e darei tudo que ela quiser! As pessoas que estavam presentes, mesmo sem saber da história, entenderam tudo, vez que seu Alberto estava mais vaidoso do que de costume. Suas idas na repartição eram mais comuns que antes, contudo, ele já nem perguntava sobre a tal carta, ia direto ao assunto, ou seja, buscava maneira de chamar atenção da atendente, que cada vez mais, via-se no círculo de fogo, e sem saber o que dizer mediante cantadas baratas do velhinho.

Numa outra brincadeira, o gerente falou pra ele: - Adalberto, sinceramente, para melhorar sua aparência, você só falta fazer uma coisa, que já deveria ter feito há muito tempo. Devia ajeitar os seus dentes, de maneira que sua boca ficasse um tanto mais firme, cheia, mais larga, pois nenhuma mulher vai querer beijar o senhor neste estado. Ele sem ter muito quer fazer, agradeceu seu Augusto pela força, pela gentileza, e logo após saiu. Mas antes, quis saber a opinião de Marinez, mas ela não deu muito ouvido. Exceto concordou com o ponto de vista do gerente, contudo lembrou a seu Alberto que ele já era um homem idoso, assim, deveria procurar uma mulher também idosa, ou um pouquinho mais próxima da idade dele.

Sem ter o que dizer, saiu da agência e voltou somente duas, três semanas depois. A princípio, o gerente se viu aliviado, e a moça mais ainda... Assim que seu Alberto chegou, foi logo abrindo a porta da repartição (como se quisesse dizer: estou melhor agora?), com um sorriso estampado na boca, de um canto ao outro da orelha. De longe era possível perceber as dentaduras que havia colocado, vez que seu sorriso ficou mais largo. Todavia, esse largo sorriso foi se desfazendo, ao saber que Marinez havia sido deslocada desta agência para uma outra.

Justino Cosme, estudante,

Um comentário:

  1. Parabéns, sua escrita está cada dia melhor, com simplicidade consegue nós fazer visualizar personagens, imaginar situaçoes, refletir sobre a realidade...
    siga firme em seus propósitos!
    um abraço
    Shirley Pimentel

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