sexta-feira, 4 de junho de 2010

O povo campesino clama por mais e melhores escolas


Por mais que pesquisas apontem que o índice de educação escolar vem aumentando, é de considerar que não podemos celebrar de maneira pomposa. É preciso ter os pés sobre o chão, porque o débito educacional que o país deve aos exorbitantes analfabetos é quase incalculável, haja vista que temos um número considerável de pessoas que nunca foi a escola, ou permaneceram pouco tempo nela, principalmente a população oriunda do campo. Sendo que freqüentar uma escola nunca foi “privilégio” da classe menos favorecida. Isso não quer dizer que esta nunca quis ir a uma, mas na escolha entre estudar e trabalhar, este sempre fala mais alto, uma vez que garante, a princípio, a sobrevivência humana.

No campo, a situação ainda é mais agravante, porque além da dificuldade que o trabalhador e trabalhadora têm para estudar, devido o cansaço da dura jornada de trabalho durante o dia. Ainda hoje, muitas comunidades não disponibilizam de uma escola que possam atendê-los, como se o Direito à Educação, conforme promulga a Leis de Diretrizes e Bases – LDB, fosse mérito apenas da população da cidade. Na falta da escola no e do campo, muitos desistem de estudar e outros, mesmo com muita dificuldade, buscam ter acesso a ela, pois a educação é uma expectativa de uma vida melhor, ou mais independente do povo da cidade.

Contudo, quando chegam à escola da cidade, os obstáculos são inúmeros: as condições do transportes que os conduz não são das melhores; cansaço físico latente; falta tempo extra para estudarem; dificuldade em organizar enquanto grupo, pois nem sempre os estudantes moram perto uns dos outros; também não têm oportunidade de fazer pesquisas na própria escola – quando há recursos didáticos –, porque o acesso a ela é somente no momento que estão na sala de aula. Para piorar a situação, ocultamente, são discriminados por uma boa parte dos professores e também pelos próprios colegas, já que são vistos como gente sem cultura, sem conhecimento; jocosamente, como “estudantes da roça”, quão fosse impossível ter uma vida digna nesta, enfim.

Diante da situação que assola a trabalhadora e o trabalhador, mormente, o campesino, estudar nos moldes como a escola está estruturada ainda não é nada fácil. Contudo, é impossível não reconhecer que a distancia entre a escola e o trabalhador tenha ficado menor, contudo precisa melhorar ainda mais. E os profissionais dela precisam reconhecer que fora dela há muitas pessoas que necessitam urgentemente sair do estágio onde se encontram – analfabetos. Não por opção, mas devido a estrutura sócio-política do país que sempre os empurrou para este fim.

De outro modo, a escola precisa ser mais atraente e menos opaca, porque um trabalhador, que após desenvolver uma árdua jornada de trabalho, não suporta fingir que está contente com má instituição de ensino onde estuda, pois as forças contrárias à permanência nela são maiores.

Justino Cosme, estudante

2 comentários:

  1. Excelente sua avaliação. Muitos são os obstáculos a serem superados na busca da oferta de educação digna e de qualidade a esta população campesina. Tito

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  2. JÚ, A interação com leitores, muitas vezes anônimos, é uma das partes mais interessantes de se manter um blog por isso, diria que é extremamente significante ler algo que nos inspira e concomitantemente nos encanta e nos faz refletir e você o fez de maneira brilhante neste texto que pinta o retrato da educação brasileira.

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