quinta-feira, 3 de junho de 2010

O pão nosso de cada dia!


Depois daquele estrépito na rua, na aurora do dia, não mais conseguir dormir. Se bem que tentei, e quando ia pegando no sono ouvir de novo um grito, um tanto mais grave, quase indecifrável, de uma segunda pessoa. Contudo entendi-o somente pela metade: “...ôlhaaaopaaaão”. Sonolento e sem coragem para decifrar o que se passava ali fora, fiquei amargando na cama até o café da manhã...aos meus ouvidos o barulho soava como se alguém estivesse lapidando uma pedra.

Os dias foram passando, e os gritos iam repetindo sempre nos mesmos horários, agora de maneira mais compreensível, já que os meus ouvidos foram se afinando ou acostumando com o que era quase impossível outrora. Desse modo, fui entendendo que aqueles ruídos que ocorriam todos os dias pela manhã era simplesmente vozes de dois rapazes, um mais moço, que vendiam pães pelas ruas da cidade: um ia à frente e o segundo mais atrás, no raio de cem metros. No entanto, ambos usavam o mesmo bordão, com a diferença do trocadilho, para chamar atenção da freguesia que, possivelmente, estaria dormindo. Um deles gritava: “Moradooooooooor, ooolha ô paaaão”! O outro – como estivesse respondendo – cadenciado, falava: “Ooolha ô paaaão, moradooooooooor!

Sem dúvida, essa prática de vender pão pelas ruas da cidade por uns dias mexeu comigo. Não somente por ter acordado-me algumas vezes, mas porque também fiz isso quando morava na ex-pacata cidade chamada Santa Maria da Vitória.

Ainda bem que isso, e tantas outras coisas boas, ainda é possível se vê na sossegada cidade Feira da Mata-BA.

Justino Cosme, estudante

2 comentários:

  1. As desigualdades sociais em nosso país são cada vez mais predominantes contudo,a sociedade parece ter se acostumado com tais calamidades e você brilhantemente após relatar um fato que infelizmente já faz parte de nosso cotidiano leva-nos a reflexão acerca da realidade brasileira.

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  2. Muito bem. Belo texto...
    Abraço
    Calixto

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