quinta-feira, 3 de junho de 2010

O desequilibrista

No alvorecer do dia, no calor que à cidade “insiste” em fazer, sob uma plataforma de um posto de gasolina, sem equilibro, ele deixa umas moedas miúdas caírem do bolso da camisa ao chão. Abaixa para catar: cata uma, mais outra... que nem galinha catando milho. Ao tentar colocá-las no bolso, deixa caírem novamente. Aí começa a peleja de novo.

Assim que apanha os níqueis, meio trôpego, como se tivesse buscando apoio, tenta escorar-se em um grande saco que carrega com todos os seus pertences. Ao se levantar da “seleção” das moedas e ao apanhar o saco bruscamente, deixa algumas peças de roupas emergirem dele. Meio trêmulo, pega uma peça, outra, e com mau-vontade e impaciente devolve-as ao saco violentamente.

Depois de tudo arrumado e balbuciando algumas palavras consigo mesmo, mas como se estivesse falando com alguém, ele sai cambaleando e tentando se firmar entre uma coluna e outra da plataforma. Ao tentar atravessar a avenida é levado pelo vento de uma carreta que passa em alta velocidade. O individuo não morre, entretanto tudo cai esparramado ao chão: ele, moedas, roupas e um jornal “vencido” e meio amassado, que voa do saco e chega aos meus pés, com a manchete: “Aumenta o índice de alcoólatras e miseráveis na Bahia”.


Justino Cosme, estudante

Um comentário:

  1. As desigualdades sociais em nosso país são cada vez mais predominantes contudo,a sociedade parece ter se acostumado com tais calamidades e você brilhantemente após relatar um fato que infelizmente já faz parte de nosso cotidiano leva-nos a reflexão acerca da realidade brasileira.

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